Dicas

Voo livre e a vida: um paralelo

homem com asas parecido com da vinci

O que faz com que os praticantes do voo livre sejam tão apaixonados pela modalidade? É a sensação de liberdade, a vista espetacular ou será o contato com a natureza? Na minha opinião de piloto há mais de 10 anos, é tudo isso e também o fato de ser uma terapia para a mente. 

Segundo o dicionário, terapia é um tratamento que busca amenizar ou acabar com os efeitos de uma doença (física, psíquica, motora etc.).

Focando no aspecto psicológico, pode o voo livre melhorar nossas condições psíquicas? Em virtude de serem dois mundos semelhantes, podemos aprender com o voo livre e melhorar nossa qualidade de vida. Nesse sentido, irei apresentar algumas analogias desses dois mundos.

Estilo de vida

No voo livre, alguns escolhem a previsibilidade e facilidade do voo local, praticado a poucos quilômetros da decolagem e do pouso oficial. Outros preferem a modalidade Cross Country, o “cross”, que consiste em fazer voos que os levam a dezenas ou até centenas de quilômetros de distância da rampa de decolagem.

No plano terreno, alguns querem viver a vida toda numa mesma cidade, enquanto outros se aventuram mudando de cidade e até mesmo de país, vivendo novas descobertas, cenários, clima, língua.

No voo livre, assim como na vida, passamos por situações de glória assim como frustrações. No voo de cross, o objetivo mais comum é de voar o mais longe possível o que demanda ser rápido e aproveitar bem o tempo disponível (todo o dia). Um pouso precoce, chamado de “prego” é a derrota para o voador uma vez que o dia de voo de cross estará perdido. Ele pode colocar a culpa na condição meteorológica, no equipamento ou pode assumir que cometeu erros. Da mesma forma, muitas vezes temos dificuldade em aceitar nossos erros e isso prejudica nossa evolução e desenvolvimento como voador. Podemos dizer que isto acontece na nossa vida pessoal?

Oportunidades na vida e as térmicas no voo livre

No voo de cross, é preciso basicamente três habilidades. 1) encontrar correntes invisíveis de ar quente ascendentes, as “térmicas”, ao mesmo tempo que evitar correntes descendentes. 2) ajustar o posicionamento na térmica, mantendo-se nas regiões de maior taxa de subida. 3) identificar os ciclos naturais da atmosfera, sabendo o quão rápido é possível voar sem cometer erros que colocam o piloto no chão antes da hora.

Na vida, temos situações análogas. 1) procuramos oportunidades e pessoas que nos colocam “para cima”. Por exemplo, uma carreira satisfatória profissional e financeiramente. Igualmente, uma relação com um amigo, cônjuge ou parceiro de negócios interessante e saudável. Não sabemos de antemão onde estão estas pessoas e oportunidades, mas podemos investir em capacitação ou aprender na prática a desenvolver habilidades que nos permite acertar cada vez mais. Da mesma forma, podemos identificar aqueles que são verdadeiras “descendentes” para nossa vida e sair fora deles. 2) Diante de uma oportunidade, temos a chance de tirar ótimos frutos e contribuir com a sociedade. Todavia, podemos desperdiçar aquela chance até que o momento acaba. 3) As condições mudam. Assim, há momentos em que devemos acelerar e investir em certos projetos. Já em outros, percebemos que o momento é aceitar que o ambiente é desfavorável, quando temos de esperar o próximo “ciclo”.

Um bom piloto é dedicado. Logo, investe em conhecimento teórico - meteorologia, aerodinâmica, equipamento, autoconhecimento - e prática exaustiva para fixar o aprendizado. Isto o coloca em uma posição de vantagem e pode ser determinante para conquistar melhores resultados. Embora algumas pessoas possam alegar que o acaso ou sorte foram decisivos ao sucesso, sabemos que não foi sorte. Portanto, no voo, assim como na vida, “curiosamente” a sorte encontra quem mais se sacrifica na busca de seus objetivos.

Voando e aprendendo

Outros aspectos comuns ao voo livre e nossas vidas: planejamento, conhecimento teórico x conhecimento prático, livre arbítrio, trabalho em equipe, análise de risco e segurança.

Nesses mais de 10 anos de voo livre, sinto que cada dia é diferente, cada voo é único. É importante termos a humildade necessária para seguir aprendendo a cada dia e coragem para alcançar objetivos cada vez maiores. Isso nos mantém extremamente motivados e certamente ajuda a termos uma boa saúde mental.

Este texto foi escrito por um voador blogueiro e expressa opinião e experiência pessoais, sem comprovação por profissional especialista em psicologia.

Deixe um comentário